Brasileiro pavimenta novo caminho para adquirir a casa própria

em Monitor Mercantil, 10/dezembro

Descubra como o mercado imobiliário se transformou e quais estratégias são essenciais para realizar o sonho da casa própria. por Fernando Lamounier.

O sonho da casa própria continua sendo um dos símbolos mais fortes de ascensão e segurança para o brasileiro. Para muitas famílias, ter um imóvel não significa apenas ter um teto, mas conquistar estabilidade, autonomia e a sensação de que, finalmente, um futuro mais tranquilo foi construído. Só que os caminhos do mercado imobiliário até esse sonho mudaram; e o que antes parecia quase uma “receita pronta” agora exige novas estratégias, escolhas mais inteligentes e um olhar atento para o cenário econômico.

O mercado imobiliário vive um momento curioso: mesmo com juros elevados e inflação ainda pressionando o bolso, a busca por imóveis não arrefeceu. Pelo contrário. As vendas de imóveis residenciais em 2024 registraram o maior volume da série histórica da Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc), com alta de 11,8% nas vendas e 21,9% nos lançamentos. Já no primeiro trimestre de 2025, o ritmo se manteve acelerado: as vendas cresceram 15,7%, chegando a 22,5% no acumulado dos últimos 12 meses.

Isso mostra que, apesar dos obstáculos, o desejo de comprar um imóvel se mantém sólido e o brasileiro está encontrando maneiras diferentes de chegar lá. Uma dessas maneiras, talvez a que mais cresceu de forma silenciosa, é o consórcio imobiliário. Nos últimos cinco anos, o setor não apenas avançou: disparou. Entre 2020 e 2025, as vendas de cotas aumentaram 294%, e o número de participantes ativos saltou para 2,5 milhões, conforme dados da ABAC. Os consórcios, antes vistos como uma alternativa burocrática e lenta, passaram a ser encarados como estratégia de planejamento financeiro — e não apenas como substituto aos financiamentos tradicionais.

O que explica essa mudança de percepção? Antes de tudo, o contexto. Com a Selic em 15%, financiar um imóvel se tornou uma conta pesada. O valor final supera o preço inicial do bem, e isso faz com que o consumidor pense duas vezes antes de assumir uma dívida de longo prazo. Ao mesmo tempo, a inflação e os reajustes típicos da construção civil — INCC, IGP-M, IPCA — trouxeram instabilidade à previsibilidade que o comprador sempre buscou.

Diante disso, vê-se que o consórcio é, de fato, um dos investimentos mais seguros atualmente. Isso porque há duas taxas principais: a de administração, que remunera a gestão do grupo, podendo sofrer variações de 10% a 20% do valor total da cota, diluída nas parcelas mensais. E o fundo de reserva, que cobre inadimplência e riscos, geralmente entre 1% e 5% da cota, também diluído.

Com custos mais previsíveis e sem juros, o consórcio passou a ser um aliado para aqueles que pretendem realizar uma jornada mais organizada e amiga do orçamento. Sim, é um caminho longo que exige disciplina e planejamento, mas também é um meio menos arriscado para quem não quer comprometer as finanças pelos próximos 20 ou 30 anos. Embora não seja a modalidade de investimento que mais cresceu quando comparada à renda variável ou a produtos prefixados, o consórcio imobiliário se consolidou como um dos caminhos mais sólidos e coerentes para quem deseja adquirir uma residência.

Esse crescimento também pode ser visto como um movimento sociocultural: o brasileiro está repensando a forma de consumir, investir e se planejar. De um lado, jovens que entenderam que construir patrimônio cedo é uma vantagem futura. De outro, investidores que viram no consórcio uma forma de diversificar suas estratégias com segurança. Não se trata apenas de adquirir um imóvel, mas de fazer isso com consciência, responsabilidade e estratégia.

No fim, enquanto o mercado imobiliário se reinventa, o desejo permanece o mesmo: encontrar um lugar para chamar de seu. A diferença é que, agora, o caminho até lá está sendo redesenhado e os consórcios imobiliários estão no centro dessa mudança.


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