Primeiro edifício residencial do Rio de Janeiro, o Palacete Lafont fez história

em Diário do Rio, 15/outubro

O prédio de altíssimo padrão localizava-se na esquina da Av. Central (Hoje Rio Branco) com a Rua Santa Luzia. Era o retrato do que havia de melhor da arquitetura francesa.

De uns tempos para cá debate-se muito um centro do Rio mais residencial, com um número maior de prédios para moradias, no esteio do bem sucedido projeto Reviver Centro, da Prefeitura, e muito movimento já vem acontecendo nesta direção, com mais de 13 mil imóveis novos vendidos na região central nos últimos 3 anos. No entanto, pouca gente sabe que a história é antiga, e não acabou na época imperial não.

Em outras épocas também era bastante comum as pessoas viverem no centro do Rio de Janeiro, e isso se estendeu inclusive ao mercado de altíssimo luxo. Aos poucos isso foi mudando e a região ganhou um ar dominantemente comercial, sendo até aprovada uma lei nos anos 60 proibindo construir moradia no coração da cidade. Contudo, em 1910 foi construído o primeiro prédio de apartamentos de luxo em toda a cidade. Um portentoso prédio que se intitulava “Palacete” e era algo no nível dos mais glamurosos prédios de Paris ou Mônaco.

O Palacete Lafont localizava-se na esquina da Av. Central (Hoje Rio Branco) com a Rua Santa Luzia, pertinho da região do Castelo, que agora renasce com vários retrofits, Teatros, Bares e Casas de Café. Era o retrato do que havia de melhor da arquitetura francesa. Seu interior era uma cópia fiel das mais luxuosas “maisons” parisienses do início do século, brindando os moradores com o que havia de mais especial numa época em que morar em apartamentos era uma coisa profundamente inovadora, ainda mais para as classes mais abastadas.

As unidades tinham três ou quatro quartos, salas de visita e jantar, banheiros com água quente, além de telefones que já vinham instalados, elevadores com espelhos belgas e portas douradas. O pé direito era palaciano, com 4 metros. Um completo luxo para a época.

O nome Lafont se deu por conta do financiador desta obra: o bilionário francês Marcel Bouilloux Lafont, que fundou a Aeropostale (companhia aérea que virou Air France), banqueiro dono do Credit Foncier, além de seguradoras, estações de rádio e um verdadeiro império empresarial. Ele era um dos maiores magnatas do mundo no início do século XX, e se apaixonou pelo Brasil pelas mãos do seu sócio, o urbanista Antônio Eugênio Richard Júnior, que conheceu numa viagem de trem em 1906, na Europa.

O banqueiro Lafont deu ao engenheiro Richard o capital para começar um grande negócio imobiliário, que foi a primeira companhia imobiliária do Brasil, empreiteira de obras públicas e privadas, a Companhia Brasileira de Immoveis e Construcções (Cobic). Contamos a história de Richard aqui no DIÁRIO DO RIO e esse investimento que possibilitou a construção do bairro do Grajaú e mais de 15 mil casas no Rio de Janeiro, sem contar a abertura de ruas e loteamentos em todo o país. Toda esta inovação trazida por Richard ao país inspiraria depois seu bisneto, o corretor de imóveis Sérgio Castro, que acabou por dar seguimento ao trabalho.

Lafont e Richard fizeram muitos negócios na época e, de acordo com alguns relatos históricos, muito possivelmente o engenheiro, ainda no início de seu relacionamento comercial com o amigo francês, foi o responsável por gerir a obra do prédio de luxuosos apartamentos.

Na década seguinte, nos anos 1920, alguns dos apartamentos do Edifício Lafont foram transformados em salas comerciais. Todavia, sem perder o luxo e o requinte, mas já assistindo a mudança das pessoas mais ricas para a Zona Sul e, na época, também para a Tijuca.

Eram escritórios mais elitizados e voltados à parte da população com mais poder aquisitivos. Médicos e dentistas se instalaram no local.

Com as reformas que esta parte do centro da cidade passou neste período, o prédio acabou deixando de existir e foi demolido. Substituído no início dos anos 40 pelo Edifício Rio Branco, construído de acordo com o plano urbanístico do engenheiro húngaro Alfred Agache, ficou apenas nas memórias e nas ideias de um Rio de Janeiro de outras épocas, mas que agora voltar a ter novos moradores em sua região central. Mas sua fachada luxuosa e seu interior palaciano marcaram uma era.


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