Mesmo com juros altos, setor imobiliário aumentou 18,6% os lançamentos
em Monitor Mercantil, 2/julho
O setor imobiliário teve um desempenho positivo em 2024, com um crescimento nas vendas e nos lançamentos. O lucro líquido combinado das incorporadoras teve crescimento expressivo, saltando 104% no quarto trimestre de 2024 e atingindo R$ 1,7 bilhão, frente aos R$ 841 milhões registrados no mesmo período de 2023. No acumulado do ano, o lucro total do setor chegou a R\$ 5,3 bilhões, um aumento de 88% em relação a 2023.
Porém, as perspectivas para 2025 são de um crescimento mais gradual, com um foco em lançamentos com uma gestão mais eficiente das despesas. O cenário macroeconômico, especialmente a alta taxa de juros, exigirá que as incorporadoras adotem uma abordagem mais cautelosa em relação aos novos projetos. A tendência é que o setor continue se consolidando, mas com um ritmo mais lento, focando em iniciativas que ofereçam maior segurança financeira e rentabilidade a longo prazo.
O estudo Incorporadoras Q4 2024 destaca o desempenho positivo setor imobiliário em 2024. Realizado pela Grant Thornton, uma das maiores empresas de auditoria e consultoria do mundo, o estudo também aponta desafios importantes para 2025, relacionados à alta taxa de juros e ao cenário econômico mais complexo.
Maria Regina Abdo, sócia de Auditoria e líder de Real Estate da Grant Thornton, comenta que a demanda por imóveis de baixa renda (classes C e D) se mantém forte, impulsionada pelos incentivos governamentais. Por outro lado, o mercado de média e alta renda poderá enfrentar desaceleração devido ao aumento das taxas de juros e ao impacto do INCC nos custos de construção. Esse cenário pode afetar as vendas e aumentar os estoques, especialmente em empreendimentos de maior valor.
Thiago Bragatto, sócio de Auditoria e coordenador do estudo, comenta sobre o mercado de alto padrão: “Embora o mercado de alta renda enfrente desafios devido ao aumento da taxa de juros, ele continua sólido, especialmente nos segmentos de luxo e superluxo. A lei do distrato tem se mostrado uma proteção importante, ajudando a mitigar os riscos relacionados aos aumentos nos distratos e à instabilidade econômica.”
Segundo a empresa de auditoria, o estudo corrobora os dados divulgados pela Brain/CBIC (Câmara Brasileira da Indústria da Construção) que mostram um aumento de 18,6% no volume de lançamentos imobiliários entre 2023 e 2024, refletindo a confiança das incorporadoras na recuperação do mercado pós-pandemia. As vendas também cresceram 20,9%, demonstrando que, mesmo em um cenário de juros elevados, o setor manteve um ritmo sólido de negócios.
O cenário econômico de 2025 será desafiador para as incorporadoras, afirma o estudo. Com a Selic ainda elevada, 15% ao ano, em junho de 2025, o financiamento continua caro, impactando diretamente a capacidade de compra dos consumidores. Além disso, o Índice Nacional da Construção Civil (INCC-DI) segue em alta, atingindo 7,54% nos 12 meses encerrados em março de 2025. Esse cenário pode pressionar ainda mais os custos das incorporadoras, especialmente aquelas que atuam no segmento de média e alta renda, onde o repasse do financiamento ocorre apenas após a conclusão das obras.
A alta taxa de juros levanta preocupações sobre a capacidade de crédito dos consumidores, especialmente para o programa “Minha Casa, Minha Vida”, crucial para o mercado de imóveis de baixo custo. Já para as incorporadoras de alta renda, o aumento dos distratos e os custos relacionados ao IPTU e condomínio para as unidades devolvidas tornam-se riscos crescentes.
Inovação
Apesar de algumas inovações, a adoção de novas tecnologias ainda é limitada no setor. A escassez de mão de obra especializada e a falta de inovação nos processos de construção civil são desafios que as incorporadoras precisam enfrentar. A eficiência operacional e a redução de custos por meio de tecnologias se tornam cada vez mais cruciais para o setor se manter competitivo.
Indicadores financeiros: margem líquida: subiu de 27,4% (março de 2023) para 31,3% (dezembro de 2024), refletindo um controle mais eficaz sobre custos e despesas; receita combinada: atingiu R$ 46,1 bilhões em 2024, com crescimento de 23,7% em comparação a 2023; custos e despesas: os custos cresceram 19,9%, e as despesas administrativas aumentaram 10,1% (acima da inflação de 4,83%), um reflexo do impacto das altas taxas de juros no setor; e despesas comerciais: aumento de 13,5%, indicando o esforço das incorporadoras para manter suas vendas em um ambiente econômico desafiador.
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