Moda e imobiliário: o futuro do lifestyle de luxo no Brasil

em Mercado e Consumo, 8/julho

Quando se fala sobre o futuro da moda, os temas mais recorrentes são tecnologia, sustentabilidade e novos modelos de negócios. Mas uma tendência silenciosa, e com enorme potencial, começa a ganhar corpo no Brasil: a união entre moda e mercado imobiliário. Um movimento que vai além da estética, articulando branding, experiência, valor agregado e diferenciação estratégica.

O País acaba de dar um passo relevante nessa direção, com o lançamento do Vista Morumbi Cyrela Furnished by Armani/Casa, um megaprojeto de duas torres com mais de 200 metros de altura, assinado por uma das mais icônicas marcas do luxo italiano. Localizado no Morumbi, com entrega prevista para 2029, o empreendimento deve gerar um Valor Geral de Vendas (VGV) superior a R$ 700 milhões, com unidades que podem ter até 710 m², mobiliadas com design exclusivo da Armani/Casa.

Mais do que um projeto de alto padrão, esse lançamento marca a entrada do Brasil no circuito global das branded residences, um segmento que já movimenta bilhões em cidades como Miami, Dubai e Londres.

De grife ao concreto: por que a moda entrou no mercado imobiliário?

A pergunta que aponta essa nova fronteira do lifestyle é simples: por que apenas comprar um apartamento de luxo, se você pode viver uma marca?

Grifes como Armani, Versace, Missoni e Diesel entenderam que seu valor vai além da roupa. Elas vendem um ideal de vida, um imaginário, um código de pertencimento. Hoje, esse DNA é traduzido em projetos arquitetônicos assinados, do design de interiores ao mobiliário, das áreas comuns aos serviços personalizados.

Para o setor imobiliário, os benefícios são evidentes: diferenciação imediata e valorização do metro quadrado. Segundo a Savills International Development Consultancy, imóveis de marca podem alcançar preços até 34% acima da média local — e, em mercados como Dubai e Miami, esse prêmio pode chegar a 50%, segundo dados da Bloomberg Línea.

Esse movimento reflete uma mudança cultural profunda — como aponta Stephanie Stein, diretora de marketing do Instituto Mulheres do Imobiliário:

“No universo do luxo, marcas fortes criam ecossistemas de desejo e, como designer de joias e estrategista de marcas, acompanho de perto a evolução desse comportamento: já não basta vestir uma marca, é preciso vivê-la. A união entre moda e mercado imobiliário reforça esse movimento de imersão sensorial, em que cada espaço carrega narrativa, identidade e pertencimento.”

“Quando vejo projetos como o da Armani/Casa no Morumbi, penso imediatamente em como esse fenômeno global começa a se consolidar também no Brasil. E vale lembrar: a Daslu, com todos os seus excessos e acertos, foi pioneira ao transformar consumo em experiência arquitetônica, criando um verdadeiro templo do lifestyle paulistano. Hoje, o conceito das branded residences apenas retoma e aprofunda esse desejo.”

Tendência global, oportunidade local

A união entre moda e mercado imobiliário já é realidade em alguns países:

  • Missoni Baia, em Miami: 249 unidades com o universo gráfico da marca italiana;
  • Palazzo Versace, com residências em Dubai, Macau e Austrália;
  • Karl Lagerfeld Villas, na Espanha, com foco em luxo sustentável;
  • Diesel Wynwood Condominium, em Miami, com apelo industrial e jovem.

O movimento também chegou ao setor automotivo: marcas como Porsche, Bentley e Aston Martin já assinam torres residenciais nos Estados Unidos.

Agora, o Brasil entra nesse circuito — e tudo indica que não vai parar por aí. Marcas de moda, tanto nacionais quanto internacionais, que buscam relevância cultural e conexão com o estilo de vida de seus consumidores, devem explorar o mercado de real estate como nova fronteira de atuação.

Stephanie Stein acredita que essa é uma oportunidade que beneficia todos os envolvidos: “Para o mercado imobiliário, é a chance de incorporar storytelling e valor simbólico. Para as marcas de luxo, é a expansão natural de um branding que não cabe mais só nas vitrines. Ela ocupa endereços, define interiores e molda estilos de vida.”

É o encontro entre tijolo e desejo, concreto e conceito.

E o que vem pela frente?

Mais do que uma tendência, estamos diante de uma estratégia de marca de longo prazo, capaz de redefinir tanto a forma como as marcas se relacionam com seus públicos, quanto a maneira como o mercado imobiliário de alto padrão se posiciona.

Segundo o Wall Street Journal, o número de branded residences no mundo deve mais que dobrar nos próximos 15 anos, passando de 1.500 para mais de 3.700 empreendimentos até 2040. E nem tudo é luxo extremo: novas propostas mais acessíveis, como o Fiat House, em Nova York, já estão surgindo.

No Brasil, com um consumidor de alto padrão cada vez mais maduro e atento ao design, à experiência e à curadoria, o campo está aberto. Marcas de moda nacionais, ou mesmo nomes ligados à gastronomia, hotelaria e arte, têm no horizonte uma oportunidade concreta de expansão.

Se você pudesse viver o lifestyle de uma marca, qual escolheria?


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