“Inflação preocupa mais que eventual alta de juros”, diz RI da Cury

em Exame, 27/agosto

Ronaldo Cury elenca mão de obra e funding como pontos de pressão para o setor imobiliário no médio prazo.

O mercado imobiliário tem tido um ano estelar – especialmente na baixa renda, turbinada pelas mudanças no programa habitacional Minha Casa Minha Vida (MCMV) na metade do ano passado. Para a construtora Cury, que atua justamente nesta faixa de renda, o setor não tem nenhuma preocupação imediata, mas precisa monitorar três pontos principais no médio e longo prazo: inflação, mão de obra e funding.

“A inflação preocupa mais que uma eventual alta de juros. Ninguém gosta de Selic alta, mas se for necessário, tecnicamente, é bom porque joga a curva de juros futura para baixo. É um subir para cair depois”, afirmou Ronaldo Cury, RI da Cury.

A pressão inflacionária prejudicou o setor imobiliário nos últimos anos na frente de materiais. Agora, no entanto, o foco é a inflação de mão de obra na construção civil, que afeta, por sua vez, a capacidade de execução das empresas.

A Cury reforçou que as grandes construtoras saem na frente quando o assunto é conquistar o trabalhador da construção civil. O principal motivo é o volume de obras e a consistência, que garante um bom fluxo de contratos.

“Oferecemos uma condição de trabalho em que não é preciso parar um segundo. Empresas menos estruturadas não oferecem essa estrutura, garantindo volume, equipamento e material. Além disso, investimos muito na qualificação desse empresário, que vê vantagem em trabalhar para nós”, afirmou.

O executivo foi um dos convidados do painel de perspectivas para o setor habitacional popular da 25ª Conferência Anual do Santander. Além dele, participou Hailton Madureira, secretário nacional de habitação.

Madureira se juntou à Cury para destacar o funding como um dos principais desafios da indústria para os próximos anos. Grande parte dos recursos utilizados para financiamento imobiliário vem da poupança, cujos recursos à disposição vem diminuindo à medida que os investidores buscam outras opções de investimento.

Começa então o desafio de substituir essa forma de financiamento. O mercado tem batido na tecla da importância das Letras de Crédito Imobiliário (LCIs) como substitutas à poupança. Enquanto a caderneta perdeu espaço na estrutura de funding de 44% em 2022 para 34% até junho de 2024, passando o volume de R$ 779 bilhões para R$ 763 bilhões, a participação da LCI cresceu de 10% para 16% até junho de 2024.

“Se a demanda [por imóveis] continuar crescendo no ritmo em que está, vamos ter que financiar a construção de maneira diferente”, defendeu Madureira. A preocupação principal do secretário é aumentar o patamar do crédito imobiliário no Brasil, que atualmente corresponde a 10% do PIB e, em sua visão, deveria estar entre 20% e 30%. “Pode ser via LCI, LIG, fundo de pensão. Mas o Brasil precisa discutir como financiar esse crescimento.”


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