Construção civil corre atrás de soluções mais sustentáveis

em O Tempo, 3/junho

Uso da madeira para construir paredes, vigas, lajes e pilares de edificações é uma alternativa para empresas que buscam processos menos poluentes.

O Brasil se comprometeu a reduzir em 53% as emissões de Gases de Efeito Estufa (GEEs) até 2030, em relação ao volume de emissões do ano de 2005. Esse compromisso faz parte do Acordo de Paris, tratado que estabelece uma série de ações para impedir que o aumento da temperatura média do planeta ultrapasse 2°C.

As empresas mineiras do ramo da construção civil estão fazendo o dever de casa e correndo atrás de soluções mais sustentáveis para seus canteiros de obras. Sozinho, o setor de construção e edificações corresponde a 6% das emissões nacionais de gases de efeito estufa, totalizando cerca de 139 milhões de toneladas de CO2 por ano. Os dados são da Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica (Setec).

Foi pensando em adequar as edificações do grupo à sua agenda de descarbonização que a empresa do setor imobiliário Brookfield Properties decidiu trocar o concreto pela madeira na construção de dois prédios do seu parque logístico em Extrema, cidade do Sul de Minas. As estruturas de cobertura da portaria e do refeitório, além dos pilares principais, estão sendo construídas com madeira engenheirada.

Essa matéria-prima é feita de peças de madeira maciça pré-fabricadas que podem ser utilizadas desde a vedação de pequenos espaços de uma edificação até a construção de vigas, pilares, lajes e paredes. Hoje, já é possível construir prédios de até 20 andares com essa solução sustentável para reduzir ou diminuir os danos dos métodos convencionais da construção civil.

Segundo o professor do Departamento de Engenharia de Materiais e Construção da UFMG Eduardo Chahud, o uso desse tipo de madeira traz vários benefícios para o meio ambiente. Entre eles, um menor gasto de energia na produção das peças, em comparação com o total utilizado para produzir o concreto ou uma viga de aço. Também ajuda na redução dos resíduos dos canteiros e garante menor desperdício de materiais, uma vez que as peças chegam prontas, bastando montar a estrutura no formato e tamanho necessários. Além disso, a madeira é uma matéria-prima renovável.

“É aquele material que você tira da natureza e consegue repor depois. Ao fazer o concreto, você vai tirar a brita, a areia, e o calcário para produzir o cimento e não vai repor. A madeira, não. Se você tira a madeira de uma floresta de reflorestamento e replanta, daqui a dez, 15, 20 anos, tem a floresta intacta e até pode produzir mais material”, explica Chahud.

E é justamente esse caráter renovável da madeira que assegura mais um grande benefício: a captura de carbono da atmosfera durante o crescimento das florestas. “No momento da produção da madeira, ela está eliminando o oxigênio para a natureza e retirando o gás carbônico. Isso, em uma plantação, em uma floresta, contribui muito para o meio ambiente”, reforça o professor.

Com isso, as empresas que buscam uma transição sustentável, junto com a descarbonização, podem gerar créditos de carbono com o uso de madeira. A construção dos anexos em Extrema (MG), por exemplo, gerou 50 toneladas de crédito de CO2.

Segundo Luís Fernando Malavasi, diretor de engenharia do Grupo Monto Engenharia, empresa responsável pela construção dos dois complexos da Brookfield Properties, o desejo dos clientes de desenvolver um setor da construção civil mais sustentável, faz toda a diferença. “Entendemos nosso papel para a entregar obras mais sustentáveis e contribuir com a descarbonização do setor de construção civil. Porém, para fazê-las, é preciso que nossos clientes também estejam preocupados com a sustentabilidade do projeto e engajados com a diminuição do impacto ambiental, ficamos felizes em ter encontrado esta sinergia com a Brookfield Properties”.

“A Brookfield Properties assumiu o compromisso de se tornar NetZero até 2050. E ações como essa, em Extrema, colaboram para atingir essa meta. Temos convicção de que estamos no caminho certo”, ressalta o presidente executivo da Brookfield, Hilton Rejman.

Versatilidade

Para o presidente do Conselho Consultivo da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (Cbic), José Carlos Martins, a madeira oferece mais liberdade no planejamento arquitetônico dos ambientes. “Outro ponto muitíssimo interessante é a liberdade que os arquitetos têm para produzir, a partir das suas ideias, locais confortáveis, bonitos, bem-feitos. É um ganho muito grande”, destaca.

Segundo Martins, as principais dúvidas que cercam as pessoas em relação à adoção do uso da madeira no Brasil dizem respeito à procedência da matéria-prima e à segurança do material. O conselheiro destaca que as madeiras normalmente são provenientes de florestas de reflorestamento, e não de florestas nativas.

“O nosso país tem muita responsabilidade com isso. São empresas muito sérias que estão trabalhando e fazendo esse produto. Então acredito que nós teremos, em breve, um mercado muito grande ligado à construção com madeira”, reforça Martins.

O que é crédito de carbono?

É uma espécie de moeda de compensação criada para estimular e medir a redução das emissões dos gases de efeito estufa. A cada tonelada de CO2 que deixa de ser emitida na atmosfera, um crédito de carbono é gerado. Os créditos são gerados a partir de ações que visam reduzir essas emissões.


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