“Balneário furou a bolha e está atraindo quem não olhava para a cidade antes”
em Valor Econômico, 14/março
Entrevista | Jean Graciola, Presidente da FG Empreendimentos
Desde o início do ano, a agenda de Jean Graciola, presidente da FG Empreendimentos, em Balneário Camboriú (SC), tem ficado mais disputada do que de costume. Não são compromissos com clientes tradicionais, mas uma turma da Faria Lima que parece ter se convencido do potencial imobiliário da cidade e de seus arredores. Eles têm desembarcado em BC para fechar negócios e ver de perto o fenômeno que faz do município o dono do metro quadrado residencial mais caro do país há três anos. E isso sem contar com o Senna Tower, que será lançado oficialmente em abril e deve colocar BC na rota dos investidores globais de “real estate”.
No último réveillon, Balneário Camboriú virou hit sertanejo e recebeu mais de dois milhões de turistas. Por que tanta gente tem “descido para BC”?
Jean Graciola — A cidade tem muitas atrações turísticas, praias lindas, natureza, serviços, gastronomia, qualidade de vida e segurança. Todo esse ecossistema tem atraído muita gente e não só para lazer.
Quem esteve em BC?
O Roberto Justus, da Steelcorp, com a qual firmamos parceria para usar painéis de “steelframe” em nossos projetos; e o Guilherme Benchimol, fundador da XP, que veio para entender o fenômeno imobiliário que está acontecendo
Em BC. Temos recebido a visita de muitos executivos de São Paulo com o mesmo objetivo. Camboriú furou a bolha e está atraindo o interesse de mercados e investidores que não olhavam para a cidade antes.
O que tem ajudado a furar a bolha de BC?
Além dos negócios e da economia pujante da região, a segurança e a qualidade de vida. Quem vivencia a cidade sabe o diferencial que ela tem. O impacto disso nas pessoas é impressionante. Um novo cliente de São Paulo veio para cá numa sexta-feira e, na terça seguinte, assinou a compra de um apartamento de R$ 12 milhões.
Qual a estratégia para conquistar mais paulistas?
Abrimos um escritório em São Paulo não só para apresentar nossos produtos e criar essa aproximação com o mercado local, mas também convidar as pessoas para ser embaixadoras da marca na cidade. Cada mercado tem uma dinâmica diferente. Em São Paulo, é preciso trabalhar com embaixadores que acessem as castas de clientes.
Como sua companhia está posicionada nesse frisson todo?
Fechamos 2024 com um VGV de R$ 2 bilhões e margem de lucro líquido de 34%, um dos melhores resultados da história da FG e do mercado da construção civil mundial. A meta para 2025 é alcançar R$ 2,5 bilhões.
Não quero ser a maior empresa do Brasil, mas a mais perene, focada no resultado e com selo de sustentabilidade. Neste ano, devemos entregar quatro empreendimentos e lançar outros três, além do Senna Tower, que levaremos ao mercado a partir de abril.
Como foi a negociação com a família Senna?
Foi um encontro de valores e propósitos, não só de negócios. Em 2019, recebi uma ligação de um amigo em comum com o Leonardo Senna, irmão do Ayrton, para sondar essa possibilidade. Ele veio aqui com um diretor da Senna Brand. Depois, fui a São Paulo conhecer o Instituto Ayrton Senna e a irmã deles, Viviane. Apresentei nossos terrenos disponíveis e a assinatura do contrato veio em 2020. Hoje, as famílias são amigas: as mulheres têm até um grupo de whatsapp.
Qual o timing atual do projeto?
Faremos o lançamento oficial em abril, com exposição de itens da memorabilia do Ayrton, incluindo um dos carros de corrida dele, maquete de 14 metros e uma festa em que receberemos muitos convidados do exterior.
Há um comitê que faz reuniões semanais para alinhar o evento e os demais pontos do projeto. Por sua grandiosidade, VGV de R$ 8,5 bilhões, tudo tem sido tratado com muito sigilo. No início do processo, havia mais de dois mil termos de confidencialidade assinados, para não vazar o nome. No dia do anúncio oficial, no ano passado, fiz uma reunião horas antes com todos os familiares dele para saber se estavam felizes com a proposta final. Só então, anunciamos.
Para quando está prevista a entrega do empreendimento?
O prazo inicial de construção era de dez anos, mas já reduzimos para sete, em função de novas tecnologias construtivas e ajustes no projeto. Na fundação, por exemplo, conseguimos desenvolver um tipo de estaca que reduziu em cinco meses o prazo de obra e excluímos o segundo subsolo também, o que nos permitiu antecipar a entrega em dez meses.
Você mencionou a expectativa de receber convidados estrangeiros para o evento. A vocação de BC é se tornar um destino de investimento internacional?
Sem dúvida, e isso não tem mais volta. O Senna Tower vai estimular mais esse processo. Ayrton Senna é um ídolo mundial. Estive em Mônaco no ano passado, para as homenagens dos 30 anos de sua morte, e percebi o quanto as pessoas o amam. Então, acredito que teremos pessoas do mundo todo interessadas em comprar os apartamentos.
A FG começou com seu pai nos anos 1980, e hoje você está construindo o prédio residencial mais alto da América do Sul, assinado pelo Senna. Como se sente?
Até hoje eu me belisco para saber se é verdade. Tenho 45 anos, minha geração viveu muito essa história, era um ídolo à frente do seu tempo. Carregar o nome dele em um empreendimento é uma responsabilidade muito grande. Eu moro perto do terreno, no 55º andar, e consigo ver a evolução da obra. Olho pela janela e penso: é verdade, estamos mesmo fazendo o primeiro prédio do Senna. É muita emoção!