Mercado imobiliário termina ano com resultados positivos, mas 2025 trará cenários mais desafiadores
em Estadão, 28/novembro
Alta da Selic e da inflação podem pressionar renda do consumidor e reduzir demanda por novos imóveis.
O mercado imobiliário fecha o ano de 2024 com lançamentos e comercialização de imóveis registrando números muito positivos na capital paulista e em outros pontos do País, diz Rodrigo Luna, presidente do Secovi-SP. O ano que vem, no entanto, deve trazer inúmeros desafios.
A avaliação de Luna ocorreu nesta quinta-feira, 28, durante o Summit Imobiliário 2024, evento realizado pelo Estadão em parceria com o Secovi-SP, que reúne economistas, empresários e outros especialistas do setor em São Paulo para analisar o contexto nacional e as perspectivas do mercado.
“De acordo com a pesquisa Secovi-SP, em comparação com o mesmo período de 2023, de janeiro a setembro, a venda e os lançamentos de unidades residenciais na cidade de São Paulo tiveram aumento de 33% e 47% respectivamente”, apontou Luna, destacando também a participação do Minha Casa, Minha Vida nesses resultados.
Segundo ele, 55% do total comercializado e 65% do volume de unidades lançadas foram destinadas às famílias de menor renda. “A grande questão é, será que teremos em 2025 um desempenho similar?”, questionou.
Entre os desafios apontados, a alta da Selic, atualmente em 11,25% ao ano, o financiamento imobiliário e o déficit habitacional foram destacados por Erick Bretas, CEO da S.A. O Estado de São Paulo, também presente no evento.
“Nesse momento, estamos diante de dois enormes gargalos no setor. O primeiro é o financiamento. É urgente encontrar alternativas para os juros altos e para os escassos recursos da poupança. O outro é o déficit habitacional, que atinge todas as faixas de renda. Precisamos buscar saídas inteligentes que irão entregar lares melhores e, consequentemente, desenvolver cidades mais acolhedoras e funcionais”, afirma.
Com o ciclo de alta da Selic e a retirada de recursos da poupança, fonte de menor custo para captação de concessão de crédito, os bancos precisam recorrer a fontes mais caras. Em um cenário de juros mais altos e bancos mais restritivos na concessão de crédito, famílias de renda mais baixa conseguem financiamento por meio de programas como o Minha Casa Minha Vida, enquanto a classe média, com renda acima do limite dos programas sociais, enfrenta dificuldades.
Já em relação à habitação, o País enfrenta um déficit de 7 milhões de moradias no País. “Um déficit que insiste em não reduzir, mesmo com o crescimento da produção brasileira, algo que precisamos conjuntamente combater”, diz Rodrigo Luna, do Secovi-SP. “Um combate que exige a destinação dos recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) para suas finalidades precípuas, dentre as quais as principais do setor da habitação, para que milhões de brasileiros possam exercer o direito constitucional da moradia digna”, afirma.
“Inúmeros sinais indicam que teremos cenários mais desafiadores (no ano que vem)”, diz Luna. “No contexto macroeconômico, a inflação pressionada impacta diretamente o poder de compra dos consumidores, reduzindo a demanda por imóveis e comprometendo a redução da taxa de juros que, por sua vez, aumenta o custo dos financiamentos imobiliários, dificultando a capacidade de compra de imóvel pelas famílias brasileiras”, aponta.
O presidente do Secovi-SP ainda citou outros pontos que precisam ser endereçados pelo setor, como a aderência às práticas ESG e a necessidade de inovar e implantar novas tecnologias, além do grave problema do aumento de custos de construção e da falta de mão de obra. “Se não formos criativos em captação de planos de desenvolvimento profissional para trazer trabalhadores, as dificuldades atuais serão agudizadas”, diz.
Bretas, de S.A, O Estado de São Paulo, apontou que a expansão imobiliária é o maior símbolo da transformação de São Paulo em uma das maiores metrópoles do mundo e que a dinâmica de crescimento puxado pelo desenvolvimento imobiliário foi repetida em diferentes escalas por milhares de municípios do País.
“O setor cresceu, é verdade, mas não sem enfrentar dificuldades. Planos diretores que insistem em não reconhecer as reais necessidades urbanas do município, carência de infraestrutura e mobilidade, regras que não deveriam existir, mas existem, e leis que deveriam ter sido feitas, mas não foram”, disse ele, apontando que eventos que promovem a discussão como o Summit Imobiliário trazem uma troca de ideias importante para ajudar a sociedade brasileira a construir respostas e caminhos para o setor.
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