As novas parcerias que estão mudando a cara do mercado imobiliário no país

em Veja, 24/setembro

Associações e fusões representam uma novidade em um setor no qual a concorrência sempre foi muito feroz.

A competição entre as empresas do mercado imobiliário sempre foi feroz, mas há sinais de que essa fase de disputa sangrenta pode estar começando a ficar para trás. Seguindo o raciocínio de “juntos podemos mais”, muitas empresas do setor vêm se associando com o objetivo de unir forças para alcançar novos mercados e conquistar mais clientes, otimizando custos.

O caso mais recente foi a fusão da Lello e Hubert, que deu origem à maior gestora de imóveis e condomínios do Brasil. O novo grupo societário irá preservar suas marcas e governanças de forma independente, assim como o corpo diretivo de ambas empresas. Por meio da soma de competências, o objetivo desse movimento é oferecer melhores serviços e jornadas a síndicos, conselheiros, condôminos, inquilinos e compradores dos imóveis. Com a união, o grupo fica responsável por cerca de 4200 condomínios e 16 mil imóveis em São Paulo.

Seguindo a mesma estratégia de se associarem para tentar morder uma fatia maior de mercado, algumas pequenas imobiliárias da capital paulista se juntaram com a expectativa de vender mais rápido. Foi o caso das empresas Bossa Nova Sotheby’s International Realty,Jardins & Co. Imóveis,Axpe ,Agulha no Celeiro | Fine Homes e Graziella dos Imóveis. Juntas, elas formam agora o grupo MAPI. Na prática, essa associação permitiu um compartilhamento do banco de dados de imóveis. A aproximação das concorrentes se deu mediante algumas regras, como a de não compartilhar lucro ou gerência entre elas.

Ainda não dá para medir o resultado da união entre essas imobiliárias, pois os resultados não são auditados, então não há como saber se mais vendas foram realizadas em função da facilidade dessa sincronia ou não, mas vale o esforço para tentar se diferenciar em um mercado tão competitivo. A grande questão, no caso dessa união, é que no Brasil é muito comum que um mesmo imóvel seja anunciado em diversas imobiliárias, ou seja, compartilhar um banco de dados acaba sendo uma certa ilusão, já que são bancos de dados bem semelhantes entre si.

Parcerias como essas são uma boa estratégia em um mercado que, infelizmente, possui uma regulamentação muito ampla. Entre outras coisas, isso permite que compradores e vendedores realizem negócios entre si. Falta também transparência com relação aos valores praticados no mercado e dados compartilhados entre os profissionais do setor.

Em mercados mais organizados, como o dos Estados Unidos, a associação entre as empresas do setor é completa, a ponto de existir um sistema único de cadastro de imóveis, o MLS (Multiple Listing Service), utilizado pelos corretores de imóveis para cadastrar e pesquisar os produtos disponíveis no mercado e também buscar informações de tudo o que foi comercializado para ajudar a precificar as propriedades de seus clientes e nortear a estratégia de venda, sempre com dados confiáveis. Além disso, o mercado imobiliário americano costuma, quase sempre, operar de forma bastante clara: um corretor responsável pelo imóvel cuida dos interesses do vendedor, enquanto outro corretor representa o comprador.

O movimento recente de parcerias entre empresas do setor imobiliário brasileiro é salutar, sem dúvida, mas há muito ainda o que evoluir no setor. O caso americano é um bom exemplo a ser seguido.


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