‘O empresário deve fazer seu papel no desenvolvimento da sociedade, não adianta reclamar do governo’
em Valor Econômico / Imóveis de Valor, 27/setembro
Entrevista | Adalberto Bueno Netto, fundador e presidente do Grupo Bueno Netto.
Paulista, formado em Engenharia Civil na Poli-USP e com mestrado na Universidade Stanford (EUA), Adalberto Bueno Netto é referência no mercado imobiliário nacional. O Grupo Bueno Netto, que completa 50 anos em 2024, é dono de marcas como a Benx Incorporadora, que tem 150 prédios entregues na capital paulista e empreendimentos de luxo icônicos como o Parque Global. Aos 75, jogador de “beach tennis” e membro da turma do pedal, ele prepara a criação de um instituto para qualificar mão de obra para a construção civil do país.
Como foi o começo da empresa?
Adalberto Bueno Netto — Foi na sobreloja de uma corretora de imóveis na Rua Joaquim Eugênio de Lima, na região da Avenida Paulista, em 1974. Éramos eu, meus sócios, Fernando Reis e Amâncio Gaiolli, a secretária e o office boy. Fazíamos de reformas à construção de galpões para terceiros.
E como ingressou no alto padrão imobiliário?
Vendi o apartamento que ganhei do meu pai, quando casei, para comprar meu primeiro terreno, no Itaim. Ali construí o primeiro prédio de alto luxo, que não existe mais. E já em 1986 éramos a terceira maior incorporadora da cidade: chegamos a lançar 16 projetos em um único ano.
O segmento mudou muito daquela época até hoje?
O alto padrão no Brasil ganhou um nível de exigência de padrão internacional. Muitos clientes viajam, se hospedam em ótimos hotéis ou têm imóveis fora do país, trazendo referências e expectativas. Procuramos atender a isso convidando profissionais do exterior para atuar em nossos projetos, buscando elevar a qualidade dos empreendimentos.
Como foi o desenvolvimento do Parque Global? Houve momentos tensos?
Lancei o empreendimento em 2013, dez anos depois da compra do terreno, e tínhamos um TAC aprovado pelo Conselho Superior do Ministério Público para sua construção. Em quatro meses, vendemos mais de 300 apartamentos — cerca de R$ 800 milhões na época, e recebemos 20% de sinal. Com parte desse valor, pagamos a corretagem, custos de mídia e iniciamos a fundação. Em agosto de 2014, veio o embargo da Justiça e convoquei uma assembleia de condôminos para explicar o que havia acontecido. Dois anos depois, sem solução, decidimos devolver o dinheiro. Pagamos a todo mundo. Em 2020, quando relançamos o projeto, 70% daqueles clientes compraram novamente conosco. Nas duas situações, nos anos 1990 e nos 2010, ter credibilidade foi fundamental para sair da crise, além de muito trabalho, claro.
O bairro da Vila Olímpia é um dos mais valorizados da cidade, muito graças a seu trabalho. Como foi essa história?
Começamos a atuar na Vila Olímpia em 1988. O crescimento da cidade “pulou” o bairro: foi da Avenida Faria Lima direto para a Luís Carlos Berrini, deixando uma grande área sem desenvolvimento em meio a elas. A Vila Olímpia era um bairro industrial, com poucos cruzamentos e ruas longas e estreitas. Havia desafios, como um córrego que alegava nos dias de chuva e muitas comunidades.
Compramos os primeiros terrenos e chamamos os urbanistas Jaime Lerner e Roberto Aflalo para criar um plano de reurbanização da região — que incluiu a ligação entre avenidas, alargamento de ruas, praças e aterramento da fiação pública aérea, que continua a ser feito.
Ajudamos a fundar a Associação Colmeia, em 2002, junto com outros empresários e organizações civis para pressionar o poder público, propor soluções e aprovar as mudanças. Hoje, o setor imobiliário fala muito em fazer gentileza urbana, com uma ou outra intervenção na rua. Mas nós estamos mudando um bairro inteiro há 30 anos.
É papel do incorporador se preocupar com o bairro onde estão seus empreendimentos?
Na minha visão do que é fazer bem-feito, sim. Sempre tive a preocupação de entregar algo a mais para a cidade. Diante do Parque Global, por exemplo, fizemos o parque linear Bruno Covas e doamos ao município — ele fica às margens do Rio Pinheiros, em que temos trabalhado pela despoluição. É preciso resolver a situação dos rios da cidade.
E quanto à inclusão social?
Por conta do Parque Global, criamos um vínculo muito forte com a comunidade de Paraisópolis, vizinha ao nosso empreendimento no Morumbi. Fizemos uma escola profissionalizante voltada para a construção civil. No próprio Parque Global, teremos vagas para bolsistas nos centros dentro do complexo e de estágio nas companhias do grupo e de parceiros.
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