Barra ganhará novo parque e expansões do condomínio Península; veja como será

em O Globo, 16/setembro

Área fica em trecho não edificável de terreno destinado a empreendimento imobiliário.

O Rio vai ganhar um novo parque ecológico às margens da Lagoa da Tijuca, na Barra, com 220 mil metros quadrados. A área é equivalente a uma vez e meia o tamanho do Parque Rita Lee, legado dos Jogos Olímpicos de 2016. O novo espaço fica em fatia não edificável de um terreno reservado para a expansão do condomínio Península, em fase de planejamento, que terá cinco mil apartamentos, a mesma quantidade de unidades da primeira etapa do projeto.

A implantação do parque está prevista desde 1999, quando o Península original ainda estava em concepção. Naquele ano, o Ministério Público assinou com a construtora Carvalho Hosken um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) que previa modificações no projeto original, aprovado na prefeitura, definindo contrapartidas para minimizar o impacto ambiental gerado pelo empreendimento às margens da lagoa. Uma delas condicionava a expansão do condomínio ao desenvolvimento do novo parque:

— A intenção é que sejam criadas opções de lazer para os visitantes que queiram conhecer uma área preservada. O espaço será um verdadeiro museu a céu aberto com manguezal, animais típicos da região (como capivaras e jacarés-de-papo-amarelo) e uma trilha que contorna as margens da lagoa. Pensamos em ter uma tirolesa e oferecer passeios pela lagoa. Essas consultas é que vão delinear o projeto em definitivo — diz Carlos Felipe de Carvalho, presidente da Carvalho Hosken, construtora proprietária da área e responsável pelo projeto do Península.

Plano de manejo

Este mês, a Carvalho Hosken iniciou consultas entre gestores ambientais e empresas com experiência em operar parques para definir um plano de manejo.

A data para o início das obras do Península 2 ainda está indefinida. Isso porque, das 60 torres do primeiro empreendimento, que têm 15 ou 18 andares, ainda falta construir três. Dois desses lotes a terem edificações foram negociados com a construtora Azo, a mesma que comprou da prefeitura e vai reformar, convertendo em moradias, o Edifício A Noite, na Praça Mauá.

— É um projeto de longo prazo. A implantação da primeira fase do Península já dura 22 anos. A implantação completa da segunda etapa deve levar mais uns 18 anos — estima o empresário.

O futuro Península 2 terá entrada independente do parque. Sobre o projeto, um dos pontos que está em análise é se haverá ou não a cobrança de ingressos para visitação, já que o projeto será erguido em terreno particular. Mas pelo menos o acesso à trilha, que ficará na faixa marginal de proteção da lagoa e é pública, será gratuito. O plano definitivo deve ficar pronto em meados de 2025, quando também será estabelecido o cronograma de implantação do parque.

Carlos Felipe observa que parte do plano pra o futuro parque, como a oferta de passeios de barcos, depende do andamento de obras de desassoreamento da Lagoa da Tijuca, que ajudará na recuperação e na manutenção do mangue nas próximas décadas. Os serviços de dragagem começaram há seis meses, justamente pelas imediações do Península, e fazem parte de contrapartida ambiental da empresa Iguá, que venceu a concorrência do governo do estado para operar os serviços de água e esgoto de Barra, Recreio e Jacarepaguá.

— A dragagem vai melhorar a circulação da água entre a lagoa e o mar. Com isso, se restabelece um ambiente com água salobra, essencial para a preservação do manguezal. Nas condições atuais, a vegetação até sobrevive, mas surgem espécies invasoras, como a samambaia do brejo, que obstruem a passagem da luz natural, dificultando que novas mudas se desenvolvam — explicou o biólogo Mário Moscatelli.

Dragagem: mais dois anos

Segundo a Iguá, o plano de desassoreamento no trecho mais próximo do Península será concluído em dois anos. Até o momento foram dragados 10% do volume total previsto, que chega a 2,3 milhões de metros cúbicos de lodo e sedimentos, o suficiente para encher cerca de mil piscinas olímpicas com esgoto.

Filha de Mário Moscatelli, a arquiteta Carolina fez um diagnóstico sobre a área para a expansão e implantação do novo Península. Ela lembra que o crescimento desordenado da Baixada de Jacarepaguá levou à remoção de boa parte do manguezal existente na região, assim como em outras partes da cidade.

— A preservação do manguezal em boa parte do terreno também adota um conceito moderno, de “cidade esponja”. É preciso manter entre empreendimentos áreas que não estejam asfaltadas, para facilitar o escoamento de águas em épocas de chuvas— acrescentou a arquiteta.

No passado, em parte do que é o condomínio Península estava a Favela Via Parque, que ocupava parcialmente também a faixa marginal dos manguezais. A comunidade foi removida nos anos 1990, e os antigos moradores reassentados em outro terreno da Carvalho Hosken em Jacarepaguá ou indenizados, em uma ação articulada com a prefeitura.


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